ATA DA QUINTA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO
LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 26.03.1991.
Aos vinte e seis dias do mês de março do ano de mil
novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio
Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quinta Sessão Solene da
Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às dezessete horas
e doze minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente
declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à entrega
dos Títulos de Cidadão Emérito aos Senhores Francisco Riopardense de Macedo,
concedido através do Projeto de Resolução nº 28/90 (Processo n° 1436/90), e
Giovanna de Freitas Xavier, concedido através do Projeto de Resolução n° 48/90
(Processo n° 2189/90), e solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao
Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador
Airto Ferronato, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhora
Mila Cauduro, Secretária Estadual da Cultura, representando o Governador do
Estado; Senhor Maturino Luz, representando o Prefeito Municipal de Porto
Alegre; Senhora Giovanna de Freitas Xavier, Homenageada; Senhora Rejane
Carrion, filha da Homenageada; Senhor Francisco Riopardense de Macedo,
Homenageado; Senhora Maria Leda de Macedo, esposa do Homenageado. Ainda, o
Senhor Presidente registrou as presenças, no Plenário, de Cláudio Cunha, Luis
Carlos Magalhães, Rosinha Laytano, Dante de Laytano, Paulo e Diná Gastal,
Plínio Berinhard, Hilda Flores, José Carlos D’Ávila, Hermes Zanetti e Leônidas
Xausa. Após, o Senhor Presidente pronunciou-se acerca da homenagem e concedeu a
palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Lauro Hagemann,
em nome das Bancadas do PCB, PTB, PMDB, PL, PSB e PDS, e como proponente da
homenagem à Senhora Giovanna de Freitas Xavier, falou do trabalho da
Homenageada, como Assistente Social, principalmente através do Lar São José,
fundado por S. Sa. e que visa o apoio à mãe solteira no Município. Comentou,
ainda, a atuação de Francisco Riopardense de Macedo na defesa da história
porto-alegrense. O Ver. Artur Zanella, em nome das Bancadas do PFL e do PDS,
falou sobre a atuação do Senhor Francisco Riopardense de Macedo no estudo e
difusão da história e cultura de Porto Alegre, comentando as dificuldades
enfrentadas por aqueles que dedicam sua vida à pesquisa e análise histórica. E
o Ver. Antonio Hohlfeldt, em nome das Bancadas do PT, PTB, PMDB, PL e PSB e
como proponente da Homenagem ao Senhor Francisco Riopardense de Macedo,
declarou sua admiração pelo trabalho realizado pelos Homenageados da presente
Sessão. Discorreu sobre a vida e a trajetória profissional do Senhor Francisco
Riopardense de Macedo, marcada pela dedicação ao estudo da nossa cultura e do
nosso passado. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra à
Senhora Giovanna de Freitas Xavier e ao Senhor Francisco Riopardense de Macedo,
que agradeceram a homenagem prestada pela Casa. Após, o Senhor Presidente
solicitou ao Vereador Lauro Hagemann e à Senhora Maria Leda de Macedo que
procedessem à entrega dos Diplomas de Cidadão Emérito, respectivamente, à
Senhora Giovanna de Freitas Xavier e ao Senhor Francisco Riopardense de Macedo.
Ainda, foram entregues flores à Senhora Giovanna de Freitas Xavier e foi
registrada a presença, no Plenário, de ex-alunos do Senhor Francisco
Riopardense de Macedo, bem como, o recebimento de correspondência dos Senhores
Carlos Bastos, Cláudio R. Moreira e Firmino Cardoso, relativa à presente solenidade.
A seguir, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais
havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e vinte e
nove minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de
amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Airto
Ferronato e secretariados pelo Vereador Clóvis Ilgenfritz. Do que eu, Clóvis
Ilgenfritz, 3° Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após
lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1° Secretário.
O SR. PRESIDENTE: Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene.
Informamos que estão presentes
neste ato: o Sr. Ilton Rodrigues Severo, representando o Jornal RBS-Letras; o
Sr. Hermes Zanetti, ex-Deputado Federal; Cláudio Roberto Cunha, representando o
Deputado Westphalem Correa; Sr. Leônidas Xausa, ex-Vereador desta Casa,
Secretário de Justiça e Suplente de Senador.
A Câmara Municipal de Porto
Alegre tem adotado a prática de desenvolver as Sessões Solenes com diversos
homenageados, no sentido de principalmente aproximar nossos ilustres
homenageados e todos os convidados.
A CMPA homenageia hoje o
professor, historiador, engenheiro e político Francisco Riopardense de Macedo,
por uma justa proposição do ilustre Presidente desta Casa, Ver. Antonio
Hohlfeldt, da Bancada do PT. Também numa iniciativa feliz do Ver. Lauro
Hagemann, do PCB, hoje Presidente da Comissão de Finanças e Orçamento, esta
Câmara presta uma homenagem à Profª Giovanna de Freitas Xavier.
O Profº Francisco Riopardense de
Macedo, por seu trabalho e sua obra, merece toda a consideração da população da
Capital gaúcha, já que ao longo dos anos tem dedicado muito do seu tempo a
estudar e pesquisar Porto Alegre.
O Legislativo Municipal está,
nesta Sessão, interpretando certamente o desejo dos porto-alegrenses em
demonstrar o reconhecimento da Cidade a um dos seus filhos mais ilustres. Se a
obra do Profº Francisco Riopardense de Macedo é reconhecida também no exterior,
nada mais justo que os vereadores e o povo da sua Cidade rendessem sua
homenagem.
A Profª Giovanna de Freitas
Xavier é nascida em Recife, escolheu Porto Alegre para viver. O maior exemplo
de sua dedicação, sempre aos marginalizados no processo social, foi a fundação
do Lar de São José, que funciona há mais de 30 anos, ajudando jovens, mães
solteiras, oferecendo vida familiar, dotando a jovem de uma profissão, além de
ajuda para crescer na dignidade humana. A Srª Giovanna marcou sua atuação
também a favor da criança abandonada, além de importantes pesquisas sobre a
prostituição, trabalho reconhecido em diversos Estados.
Por isso, quando saudamos o Profº
Francisco Riopardense de Macedo e a Srª Giovanna de Freitas Xavier, em nome
desta Casa, nós queremos também estender a homenagem à legião de seus
incontáveis amigos, admiradores e familiares.
A CMPA com essas homenagens, está
reconhecendo, em nome de sua gente, de todo o povo de Porto Alegre, o valor de
toda obra exemplar dos nossos ilustres homenageados.
De início, passamos a palavra ao
Ver. Lauro Hagemann, proponente de uma das homenagens, que fala pela sua
Bancada e pelas Bancadas do PTB, PMDB, PL, PSB, PFL e PDS.
O SR. LAURO HAGEMANN:
Prezado Ver. Airto Ferronato, Presidente dos
Trabalhos; ilustres, prezados e queridos homenageados: Giovanna de Freitas
Xavier e Sr. Francisco Riopardense de Macedo; prezada Secretária Srª Mila
Cauduro; prezado representante do Sr. Prefeito Municipal; prezados
acompanhantes dos homenageados; Vereadores; convidados; senhoras e senhores. De
vez em quando a CMPA se engalana, como nesta tarde, numa Sessão diferente para
render homenagens a pessoas que às vezes nem sendo daqui, como é o caso da Srª
Giovanna, merecem o nosso reconhecimento e no caso do Profº Riopardense de
Macedo, um porto-alegrense, o reconhecimento da sua cidade natal pelo serviço
que vem prestando à intelectualidade porto-alegrense, gaúcha e brasileira. Esta
solenidade, hoje, se reveste de uma característica especial, 26 de março, 219
anos comemora a nossa Cidade. No início da tarde tivemos aqui uma Sessão Solene
com a presença do Prefeito, Secretários, para homenagear o nosso antigo Porto
dos Casais e hoje, aqui nesta hora, nos reunimos novamente para homenagear duas
personalidades que muito contribuíram para o avanço, para o progresso da nossa
Cidade. A Câmara de Vereadores tem proporcionado, de vez em quando, encontros
desta natureza, não tão brilhantes talvez como o de hoje, dado ao largo círculo
de amizades, de benquerenças que circundam os nossos dois homenageados. Eu me
sinto, particularmente, agradecido por ser proponente do Título de Cidadã
Emérita a Srª Giovanna. Ela sempre me situou que gostaria e gosta de ser
chamada de assistente social numa valorização da sua atividade profissional.
Acho que é muito justo porque cada um que tenha uma especialidade gosta que ressaltem
essa especialidade.
Pois foi na condição de
assistente social que D. Giovanna produziu os trabalhos que hoje são do
reconhecimento desta Câmara e desta Cidade. Numa época em que falar em mãe
solteira produzia calafrios, ele teve a ousadia de defender a mãe solteira,
para usar uma expressão da época, as jovens envergonhadas. E fundou, depois de
se formar como assistente social, ter praticado vários anos em diversas
entidades de assistência social, D. Giovanna fundou o Lar de São José, que
funciona até hoje. E o ex-Vereador desta Casa, prezado amigo Leônidas Xausa, me
revelava hoje à tarde quando chegava aqui um dado interessante. A primeira
subvenção oficial que o Lar de São José recebeu na sua história foi proveniente
desta Casa, por indicação do Ver. Leônidas Xausa, isso lá pelos idos de 1956.
Por aí podem os senhores aquilatar o tempo da existência do Lar de São José e a
benemerência que ele produziu e vem produzindo. A D. Giovanna é recifense, é
pernambucana, ancorou em Porto Alegre e aqui fez a sua razão de viver. E por
isso nós, Vereadores de Porto Alegre, lhe concedemos o título de Cidadã de
Porto Alegre. Não pretendo me alongar na exaltação da obra da D. Giovanna,
assistente social, porque as suas obras falam por ela, são o melhor testemunho da
sua passagem, da sua contribuição pela nossa Cidade e o motivo pelo qual esta
Câmara sente-se muito honrada em conceder-lhe o título de Cidadã Honorária. Eu
não poderia deixar de dizer algumas palavras ao Profº Riopardense, velho
conhecido de muitos anos de batalhas comuns em defesa da história, da tradição,
dos costumes e da intelectualidade de nossa terra, sobretudo um cidadão amante
de Porto Alegre, da sua cidade natal. Ele, talvez seja aqui entre nós um dos
raros porto-alegrenses, porque a maioria de nós proveio de outras plagas,
adotamos esta Cidade como se fosse nossa. Aqui construímos a nossa vida,
tivemos os nossos filhos, estamos tendo os nossos netos, estamos fazendo de
Porto Alegre um prolongamento da nossa vida. Esta é uma característica porto-alegrense,
deve ser de outras capitais também. Mas o Profº Riopardense mereceu desta Casa
também, por iniciativa do Ver. Antonio Hohlfeldt, o título de Cidadão Emérito.
É um galardão que lhe cabe assistência, e tenho certeza que ele saberá honrá-lo
cada dia mais, assim como D. Giovanna, e apesar dos anos já passados, dos
cabelos brancos alquebrados pelo tempo, mas com uma mente lindíssima. Sei que
ambos, e principalmente ela, poderão ainda com sua inteligência, com sua
experiência muito contribuir para a continuidade da nossa vida aqui em Porto
Alegre. É o que esta Câmara deseja sinceramente cumprimentando os dois
homenageados augurando que a galeria dos cidadãos honorários seja engrandecida
com mais esses dois nomes exponenciais. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Artur Zanella, que fala em nome das Bancadas do PFL
e do PDS.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente em exercício, Ver. Airto Ferronato; Srª Giovanna de
Freitas Xavier, Srª Rejane Carrion, Sr. Francisco Riopardense de Macedo e sua
esposa, Maria Leda; D. Mila Cauduro, Secretária de Cultura, que representa S.
Exª o Governador do Estado; Sr. Maturino Luz, que representa o Sr. Prefeito
Municipal; meus senhores, minhas senhoras. O nosso cerimonial é um pouco
complexo, e eu havia pedido ao Ver. Lauro Hagemann que falasse em nome do meu
Partido, o PFL, na homenagem à D. Giovanna, porque eu gostaria de falar na
homenagem ao Riopardense de Macedo. Não conhecia a D. Giovanna pessoalmente,
apenas de nome, e descubro, agora, que é a mãe da Rejane Carrion, esposa do
Carrion Júnior, meu colega de aula, que tenho certeza, gostaria de estar aqui
neste momento, como estão todos os senhores que eu não posso saudar, mas além
daqueles nomes citados, eu vi aqui Hermes Zanetti, ex-dirigente sindical,
deputado, hoje grande executivo do governo estadual, a Mírian Avruch, que lá no
Museu deu a sua contribuição para o Estado, e o nosso grande Profº Dante de
Laytano. Lá está ele. (Palmas.) Eu acho que com a citação do seu nome eu posso
dizer por que é que hoje eu queria falar sobre o Profº Francisco Riopardense de
Macedo, com quem devo ter trocado duas ou três palavras em toda a minha vida.
Uma, é a homenagem que eu gostaria de fazer a todos os historiadores, a todos
os escritores, a todos os intelectuais que eternizam a história da nossa
Cidade, do nosso Estado e do nosso País. Então, nesta parte, em meu nome, em
nome da Bancada, em nome da Bancada do PDS, dos Vereadores João Dib, Vicente
Dutra, Mano José e Leão de Medeiros, eu queria, em rápidas palavras, dizer que
eu sempre identifiquei no Profº Riopardense de Macedo, o combatente do bom
combate. Ele talvez até nem se lembre muito bem, mas quando eu resolvi fazer
um Projeto de Lei nesta Casa para discutir o brasão de Porto Alegre - e hoje vi
um Deputado Federal e até falei com ele ao meio-dia, Adroaldo Streck -, ele se
referia à “mui leal e valerosa” cidade de Porto Alegre. O “mui” nunca existiu,
a “valerosa” creio, até hoje, tenha sido um erro de datilografia, porque todos
os documentos falam em “valorosa”. O Profº Riopardense de Macedo foi um dos que
discutiu isso, entre outros, e me perguntava e me pergunto o que faz com que
pessoas dediquem sua vida à cultura, porque, na maior parte das vezes, só
recebe problemas, desenganos, trabalho. Vejo aqui o representante do Sr.
Prefeito Municipal, o Maturino Luz, que também segue esse caminho. Daqui a
vinte ou trinta anos, Maturino, quando receberes o título aqui da Cidade, irá
lembrar que dedicaste tua vida para muitas coisas que as pessoas não conhecem.
Sei, por experiência própria quão difícil é! Resolvi, uma vez, fazer uma
pesquisa sobre a cidade em que me criei, uma cidade do interior, Itaqui. Não
passei da segunda página. Resolvi procurar as origens da minha família, não
consegui chegar à metade da página. Tentei pesquisar de onde vieram meus
ancestrais. Vila Ipê, Antônio Prado; não consegui até hoje ir lá, Maturino! Sei
que fizeste um trabalho sobre aquela cidade, Antônio Prado, mas é difícil,
ninguém ajuda, é preciso ter uma força interior muito grande para se dedicar
numa cidade, num Estado, onde a maior parte das pessoas não dá importância às
suas raízes, a trabalhar nessa área, com todo o sacrifício, sem condições, com
a má vontade da maioria e, como disse antes, defendendo as causas justas no bom
combate, como é o caso do Profº Riopardense de Macedo. Eu queria, Professor,
nesta manifestação, dizer somente da minha admiração pelo senhor, pelo seu
trabalho, admiração pela sua esposa, que não deve ser fácil dividir o marido
com os livros, com os arquivos, com as pesquisas, e dizer que hoje o
homenageado não é o Profº Riopardense de Macedo, como a homenageada não é
somente a D. Giovanna, os homenageados somos nós, Vereadores de Porto Alegre, a
Câmara Municipal e a Cidade, que recebe como seu cidadão pessoas que dedicaram
toda a sua vida ao próximo. E eu sei como é difícil pessoas se dedicarem à
comunidade enfrentando todas as incompreensões possíveis e imagináveis. Eu
queria, neste dia, dizer, Professor, D. Giovanna, que nós nos sentimos honrados
com esse seu título. Levem para as suas casas a certeza de que Porto Alegre
muito deve a vocês e Porto Alegre sempre será grata aos dois que, hoje, recebem
este prêmio. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Registramos a presença do Profº Dante de Laytano, da Dra. Mírian Avruch,
do Dr. Carlos de Mello D’Ávila, Diretor-Presidente da Empresa Porto-Alegrense
de Turismo.
Passamos a palavra ao Ver.
Antonio Hohlfeldt, que falará em nome do seu Partido, o PT, e do PTB, PMDB, PL
e PSB.
O SR. ANTONIO
HOHLFELDT: Prezado Vereador Airto Ferronato, Presidente dos
Trabalhos de hoje; Prezada Giovanna; meu querido Francisco - me permita assim
chamar - não por força do cargo, mas pela admiração que devoto aos dois; e
demais componentes da Mesa, especialmente a Profª Mila Cauduro que pela
primeira vez vem a esta Casa na sua função de Secretária Estadual da Cultura, o
que muito nos honra, e representando o Governador do Estado; prezado
companheiro Maturino Luz, que sempre tenho a honra de dizer que foi um aluno na
Faculdade, um amigo e hoje um colaborador dentro da atual Administração,
respondendo plenamente ao projeto da recuperação do patrimônio histórico desta
cidade de Porto Alegre e que aqui representa o Prefeito Municipal; os companheiros
Vereadores, Artur Zanella, que já se manifestou, Ver. Clovis Ilgenfritz, nosso
integrante da Mesa Diretora, além daqueles convidados citados, que eu me
permito, especialmente, nominar o companheiro Leônidas Xausa, com quem sempre
temos encontros marcados, através do Câmera 2, e o Hermes Zanetti, que é
duplamente companheiro porque é professor como eu e é um homem que vem
batalhando, e não é porque perdeu ou não ganhou o mandato neste momento que vai
deixar de batalhar, porque continua participando da política partidária e
defendendo as idéias básicas que o levaram até aquela função pública.
Eu queria, aqui, mencionar
especialmente alguns amigos que se encontram presentes: o sempre bem-vindo a
esta Casa, Luiz Carlos Magalhães, o nosso autor; a Rosinha de Laytano; o Profº
Dante de Laytano, que foi logo notado pelo Ver. Artur Zanella; o jornalista
Paulo Fontoura Gastal, que tem toda uma história dentro desta Cidade - não vou
dizer que é tão velho quanto ela porque faltaria à verdade - mas de qualquer
maneira, tem um valor imenso na história desta Cidade, por tudo que prestou de
serviço a esta Cidade, no mínimo dentro da edição do Caderno de Sábado, junto
com a Diná, sua companheira; o Plínio Bernhardt, que vi aqui logo que cheguei;
a Profª Hilda Flores; o Profº Cibilis; o meu querido livreiro Boeck, da
Livraria Sulina.
E dava para a gente continuar,
talvez muito tempo, mencionando as pessoas que aqui se encontram. O que prova,
antes de tudo, que nós andamos acertados em reunir nesta homenagem tantas e tão
variadas pessoas através dos dois homenageados. Até porque eles integram
um grupo de cidadãos que trazem – e eu vou usar uma palavra que eles certamente
conhecem e a gurizada provavelmente não conhece mais – que trazem nas suas cãs,
como se costumava dizer em certas épocas, a marca da dedicação a esta Cidade.
E quando eu olho este Plenário,
hoje, cheio, vejo que a maioria das pessoas que aqui se encontram, igualmente,
são companheiros dessas lutas.
Eu diria que, de uma certa
maneira, nós poderíamos estender esta homenagem à assistente social Giovanna
Xavier, ao arquiteto e professor, pesquisador Francisco Riopardense de Macedo,
a cada uma das pessoas que aqui se encontram, que cada um de nós tem procurado
dar, à sua maneira, um pouco dessa contribuição. Mas a Casa, através das
Proposições que se apresentam, houve por bem, entre tantas outras, destacar
estas duas homenagens no dia de hoje.
Começo me referindo àquele a quem
me coube o galardão de lembrar para esta homenagem, Francisco Riopardense de
Macedo, cuja vida e cuja obra está absolutamente identificada com as forças
progressistas e com a história desta Cidade. A sua trajetória profissional, por
isso mesmo, dirigiu-se para o estudo do Planejamento Urbano e da Arquitetura
como marca da história e possibilidade da democratização das populações e seu
acesso aos bens comunitários, na mesma forma que escolheu Porto Alegre como
foco dos seus estudos centrais, culminando pelo estudo permanente da vida de
Hipólito José da Costa, sabidamente o primeiro grande jornalista brasileiro na
defesa da nossa liberdade.
Natural de Porto Alegre, nasceu
no dia 2 de março de 1921, e me permito a citação porque o Riopardense de
Macedo neste mês completou 70 anos de vida, e esse foi um dos vários motivos de
nós escolhermos o mês de março para a entrega do diploma. Ele tem, com toda
certeza, esses setenta anos muito bem vividos, basta olhar para o olhar dele,
para o aspecto disposto do Riopardense. Filho de José Maria Sayão Lobato de
Macedo – e quando se fala nesse nome já me lembro de um velho nome ligado ao
rádio, ao teatro, Sayão Lobato - não sei se emprestou o nome, se é parente, mas
de qualquer maneira é uma lembrança para aqueles que conhecem a história da
Cidade. Filho também de Maria Rita, diplomou-se em Engenharia e Urbanismo, integrou
a Secretaria de Obras no Governo do Estado, depois a Prefeitura Municipal de
Erechim, foi Professor da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, Presidente da
Comissão Permanente de Estudo e Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural do
Estado, chefe do Cadastro da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Diretor do
Serviço de Pesquisa da mesma Prefeitura, membro do CIPEL, integrante e fundador
da Associação de Artes Plásticas Chico Lisboa, membro da Associação
Rio-Grandense de Imprensa, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Sul, acho que vou parar por aí, porque nós vamos levar umas duas
folhas do discurso para fazer o currículo do Riopardense.
A mim interessa lembrar é que
além do pesquisador o Riopardense é um xilogravurista de mão cheia, e
acho que a maioria de nós aqui conhece as gravuras do Riopardense e a sua
preocupação nos registros das imagens de Porto Alegre, através dessa sua
habilidade, dessa sua sensibilidade. Eu desconfio que ele andou cometendo
poesias também, mas não consegui chegar a essa descoberta, quem sabe lá, daqui
a pouco. E, sobretudo, me parece que a grande contribuição do Riopardense é de
que mesmo pesquisando e pensando o passado desta terra, deste povo, jamais se
distancia do seu presente. E esta simbiose passado-presente me parece
extremamente importante. O meu convívio com o Riopardense de Macedo vem ainda
dos bons tempos do “Correio do Povo”, quando ele levava, quase que semanalmente
os seus artigos ao “Caderno de Sábado” ou quando, por idéia não sei mais de quem,
se juntou ele e mais um grupo ao velho Biaggio, garantindo lá em Rio Pardo para
se fazer todo um movimento de revitalização daquela cidade, ligando as
tradições da Semana Santa, que por acaso estamos exatamente no seu decurso
neste momento. Aliás, dessa fase nasceu um livro editado pela Sulina, o livro
exatamente “Rio Pardo, Arquitetura fala da História”, e que teve, se não me
engano, duas edições, no mínimo, e que foi, sem dúvida nenhuma, um livro básico
para muitos de nós que nos preocupamos com esse tipo de tema.
Mas o Riopardense de Macedo não
se manteve jamais distante da liberdade das idéias da expressão. Eu me lembro
que foi no apartamento do Riopardense que, após a volta do exílio, fui um dos
que teve a sorte de poder desfrutar de uma pequena mesa redonda com o Capitão
Luis Carlos Prestes. Quando ouvimos de viva voz do Prestes a epopéia da Coluna,
passamos uma tarde inteira conversando a respeito da política brasileira que,
então, vivia uma nova etapa na sua busca de democratização. Eu acho que isso
tem muito a ver, sim, com esta pesquisa permanente de Riopardense que dedicou a
vida ao Jornalista Hipólito José da Costa.
É
provável, contudo, que o papel mais destacado do nosso homenageado tenha
corrido por conta de sua ligação com a cidade natal, fazendo inclusive que
partisse dos seus alunos e colaboradores, especialmente através da Profª Marion
Meirelles, que está aqui no Plenário, a idéia de que nós encaminhássemos esta
homenagem que hoje se concretiza.
A Porto Alegre, Riopardense
dedicou muito do seu trabalho com obras como “Porto Alegre, Origem e
Crescimento”, de 1968, uma obra extremamente importante; como “As crianças
descobrem a História do Rio Grande do Sul”, de 1972, ou ainda “Ingleses no Rio
Grande do Sul”, de 1975, e enfim o “Solar do Almirante”, de 1980. São alguns
dos títulos que se somaria “Os aspectos culturais da Cidade”, de 1982; “Porto
Alegre vista por Saint-Hilaire”, de 1979, e a tantas outras obras por ele
escritas. Tem uma, no entanto, que diz muito respeito a esta Casa. Em 1973 o Professor
Riopardense de Macedo produziu um estudo sobre o bicentenário da Câmara de
Vereadores de Porto Alegre, publicado por esta Casa e abrangendo os diferentes
aspectos da história e das funções do Legislativo Municipal. Foi por isso,
Francisco Riopardense de Macedo, que nós escolhemos não só o mês de março, nos
teus 70 anos, mas escolhemos o dia 26 de março, o dia do aniversário da Cidade,
para ser também o dia da homenagem nesta Casa. E para que esta homenagem
ficasse mais completa, escolhemos também, de comum acordo com o Ver. Lauro
Hagemann, que também se fizesse uma homenagem à assistente social Giovanna
Xavier. Porque um lado completa o outro, uma tarefa amplia a outra. De um lado
a história dos desafios, de outro lado os desafios vividos e as buscas das
soluções desses desafios. Eu olho para a Giovanna e lembro de uma avó que eu
tenho com 95 anos, da qual tenho muito orgulho, que também tem a sua
deficiência visual nessa sua idade, mas que certamente enxerga muito mais do
que muitos dos que hoje vêm com falação e tentam fingir que resolvem os
problemas deste País. É por isso que as homenagens ao Riopardense e à Giovanna
honram esta Casa e nos emocionam sinceramente.
Esta é a nossa homenagem,
Giovanna e Riopardense, e que vocês levem o abraço dos Vereadores em nome da
cidade de Porto Alegre. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra a nossa homenageada, Srª Giovanna Xavier.
A SRA. GIOVANNA
XAVIER: Após ouvir dos Srs. Vereadores seus discursos
carregados de cultura, me sinto pequenina e esmagada para saudar os Exmos
Srs. Vereadores, cujos nomes na minha provecta idade não poderia guardar com
muita facilidade, principalmente porque houve mudanças, mas vai uma saudação
que é muito grande, porque é uma mistura do afeto esparramado do pernambucano,
do nordestino, com os meus 62 anos de vida nesta Cidade.
Quero saudá-los. E fico muito
emocionada ao ouvir nomes como o da nossa Secretária da Cultura, e dos amigos
todos, também. Fiquei até meio inibida de falar. Mas aceitem este meu muito
obrigado, os meus respeitos, a minha admiração pelos trabalhos prestados.
A todos os que compõem a Mesa, ao
meu companheiro de premiação, de título muito honroso, o meu abraço numa tarde
muito honrosa, muito ensolarada da fundação da cidade de Porto Alegre, para a
qual e para cujo crescimento contribui, orgulhosamente, digo sem nenhuma
vaidade, contribui com o nascimento de oito filhos, sendo cinco homens. Uma
geração, sem falsa modéstia, porque já cheguei na idade em que a falsa modéstia
não tem cabimento, de pessoas que se projetaram na sociedade. São médicos,
todos eles de vida muito útil. Uma geração bonita. Fato este que devo também à
contribuição do meu marido, à inteligência e também à beleza da geração.
A segunda geração –
são oito filhos e trinta netos – A segunda geração dobrou filhos. Realmente,
todos eles entram muito cedo nas Universidades, os seus
trabalhos são sempre conceituados. As noras, todas, são cultas, são
reconhecidamente professoras de grandes merecimentos e muito têm trabalhado,
tem enfermeira de alto padrão, professora, diretora, com teses em doutorado.
Realmente, eu contribuí, também, como assistente social do Lar de São José,
para o nascimento de muitos cidadãos que teriam nascido no interior, ou até,
que não teriam nascido. São centenas de moças que chegaram desesperadas no Lar
São José, repelidas pela sociedade, rejeitadas pela família e que, hoje, têm os
seus lares, muitas delas. Eu já estou com uma geração de bisnetos do Lar São
José, e esta contribuição eu agradeço a Deus, à minha fé, que foi
inquebrantável em todos os momentos difíceis, mas muito gratificantes. Estão
aí, no Plenário, amigos que me comovem e até me inibem. Eu não sou purista da
língua, porque há sete anos eu ceguei, não leio mais, eu que era uma leitora
apaixonada, que lia quatro horas por dia, que não ouvia novelas para ler os
meus livros. Comoveu-me, também, saber que há criancinhas da creche presentes.
Não foi um ideal, como teve em todas as homenagens que eu recebo, inclusive fui
premiada no Uruguai, em Montevidéu, recebendo uma homenagem por serviços
prestados à comunidade, sempre como a idealizadora e fundadora do Lar São José.
Mas este Lar não teria nem engatinhado - hoje ele tem mais de 30 anos - se não
fora a ajuda das pessoas que assinaram a Ata de Fundação e que foram as
primeiras escolhidas para dirigir a obra. E, sobretudo, esta obra existe, ela
tem mãe e tem pai, só que esse não aparece muito não, é o Desembargador
José Danton de Oliveira, que desbravou o caminho, pois era uma picada, não era
uma estrada, era uma picada dentro de uma mata selvagem. Até minhas filhas
foram censuradas quando adolescentes porque falavam em mãe solteira. Era tal o
abandono da moça que tinha uma criança nos braços como se ela fosse a maior
criminosa. As criminosas tinham também direito à visitas, ao afeto da família,
amigos, no entanto, a maioria das meninas tinham de 15 a 22 anos, algumas até
com 12 anos, mas era um abandono total. A família só pensava em “lavar a minha
honra”, não pensava nem um segundo no abandono e na carência de afeto e apoio
tão necessários nesse momento tão difícil da vida que é a gestação. Mas foi
essa turma que até o fim, desde a primeira à última presidente, durante o tempo
em que eu trabalhei no Lar, prestou serviços de despojamento, devotação e
dedicação completa à causa da mãe solteira. Precisariam muitas folhas de papel
para que pudéssemos nomear a força e o carinho que recebi dessa diretoria.
Foram pessoas que davam o melhor de si e do seu tempo, que cuidavam da saúde
das moças, que se revezavam nos trabalhos mais humildes, e a última que saiu,
que também recebeu o título de Cidadã Emérita de Porto Alegre, que foi a
Giselda Castro, nos proporcionou a vinda de máquinas, pois temos uma
lavanderia-escola, da Alemanha. Veio um cidadão daquele país para reconhecer e
ver se realmente a obra era verdadeira ou se era só fachada. Essas máquinas
produziram uma lavanderia moderna que já está dando lucro, permitindo até que
se possa pagar a folha de funcionários. Começamos esta obra sem dinheiro
nenhum, apenas com a boa vontade dos dirigentes e dos amigos. Os amigos
foram muitos, como o Xausa falou, nós tivemos apoio de convênios, mas era
somente coragem, nada era certo, tudo era provisório, tudo era passageiro;
recebia-se uma verba da Prefeitura, o Governo do Estado ajudava um pouco, mas,
de repente, era a São José mesmo. O Lar se chama Lar de São José porque São
José é o seu provedor e, até o dia de hoje, nós nos vemos em grande
dificuldade. A casa foi cedida, a pedido do Desembargador Danton, pelo então
Prefeito Ildo Meneghetti. Fui pedir aprovação do Arcebispo, porque, apesar de
saber conviver, respeitar todas as crenças, eu sou Católica Apostólica Romana.
Tive aprovação do Arcebispo com a benção para mim e para todas as pessoas que
nos ajudassem, e até hoje nós temos a proteção do Cardeal. Portanto, essa não
foi uma idealização caída do céu pronta; foram amigos que me ajudaram, que me
acompanharam através dessa cruzada onde houve espinhos, mas, como diz a canção,
o espinho não machuca a flor. Saímos gratificadas, crescemos, trabalhamos,
demos o melhor de nós, e, pela vida afora, eu posso dizer, eu nasci em dezembro
de 1906, realmente envelheci, mas recebi de Deus um dom muito grande: essa
ajuda. Começou com meu marido, ele permitir que eu estudasse com oito filhos
pequenos, me incentivou, estimulou; além da contribuição genética, que foi
maravilhosa, essa contribuição de força, de incentivo que sempre deu. Eu lutei
muito para não fazer o trabalho de conclusão de curso; apenas entrei na Escola
de Serviço Social, naquele tempo nem era Faculdade, para aprender a lidar
melhor com os pobres, para saber realmente conhecer as técnicas de abordagem,
tudo que era necessário para que melhor eu servisse. Eu não vou ter emprego, eu
não pretendo ter nenhum, eu já estou com bastante idade, e meu marido quase me
forçou, exigiu inclusive; quando eu quis oferecer o trabalho de conclusão do
curso, ele, que era um grande positivista, mas um homem que respeitava a
religião e que gostava que eu fosse religiosa, disse: “Ofereça ao Cardeal,
ofereça à sua Santa Madre Igreja, que é uma unidade, e merece”. Ele era uma
pessoa extraordinária, e aqui quero render uma homenagem de gratidão pelo muito
que ele fez, fez a minha cabeça, além do meu avô, que, quando eu era criança, me
levava a leprosários e penitenciárias. Aqui trabalhei na penitenciária,
estagiei na Santa Casa, de setembro de 52 a 53, somente com mães solteiras, com
tuberculosos, indigentes, enfim, desde menina de nove anos que visitava obras
sociais e vivia com o povo, com os pobres. Conheci a miséria das vilas, pessoas
extraordinariamente maravilhosas, pessoas nobres e se contasse a história delas
muita gente choraria neste Plenário, porque, realmente, encontrei tanta
grandeza moral trabalhando com as prostitutas em quatro Estados, indicada pelo
3° Exército, visitando bordéis durante a noite, levando um ofício para cada
Secretário de Segurança. Estive em Pernambuco, na Bahia, Ceará e Maranhão, e
até hoje tenho histórias comovedoras de grandeza e bondade, corações incrivelmente
doces, de meninas que foram levadas à prostituição pela ignorância, pelo
abandono das nossas leis, porque elas nunca tiveram a oportunidade de estudar,
iam para a roça e de lá para a casa de famílias, nem sempre bem tratadas. De
forma que, até hoje vejo, na Bahia havia, como em todos os Estados, uma
inspeção sanitária compulsória, onde elas eram empurradas para dentro de um
camburão. Conversando com essas moças, meninas algumas, eu dizia que “eu não
lhes trago nada para dar, somente um coração de mãe, um coração muito grande,
um coração que Deus me deu, o dom de sentir o sofrimento alheio; não é
simpatia, é empatia que sinto pelo sofrimento, mas nada posso fazer, senão
dizer que amo vocês. Eu tenho filhas da idade de vocês”. Depois, chorando, elas
beijavam minha mão, agarravam meu vestido, dizendo: “Fique, fique mais um pouco
conosco, dona, converse”. Vi um médico chorar. Um homem idoso disse: “Esse
fichário aqui é uma tragédia”. Há mães que “trabalham” – elas chamam a
prostituição de trabalho – dobrado, quando outra está enferma, infectada por
doenças contagiosas, ou quando são esfaqueadas ou quando apanham. É terrível, é
um mundo dantesco. Mas, um mundo que me amadureceu, um mundo ao qual eu
agradeço a Deus tudo que vi, conversas nos bordéis, nas casas, nos pelourinhos
– nesses num deles um dia subi, no outro dia, o soldado me disse que ele ruiu.
Fui sempre muito amparada, bem aceita. Esse é o meu currículo.
Depois
de 50 anos achava que estava fraca. Numa reunião interdisciplinar algumas
assistentes sociais revelavam alguma fraqueza. Isso me entristeceu muito.
Muito, muito. Era problema de nível cultural meu em relação aos outros. Então,
fiz vestibular para filosofia e cursei. Eu já tinha um namoro com a filosofia
há tempo. Conheci os filósofos com meu marido, meu professor e companheiro
maravilhoso. Ele foi meu grande amigo, a minha força na vida, a minha estrela.
O curso serviu unicamente para me auxiliar no serviço social, para servir
melhor. O escudo de minha profissão foi colocado no meu serviço, e esse nas
mãos de Deus. Por ele tenho sido criada, e duvido que alguém nesta terra tenha
encontrado maior número de almas nobres, de criaturas de escol, que eu as chamo
de minhas almas perfumadas. Eu encontrei, vim encontrar depois, um grupo com a
filosofia da Gesthalt, uma filosofia que nos ensina a valorizar as obras
pequenininhas, porque nada é pequenininho; pentear o cabelo de uma criança,
plantar uma árvore, varrer uma casa, dar uma aula magistral, nada é pequeno
quando é estimulado, impulsionado pelo amor. Este amor me fez crescer na fé,
esse caminho de Gesthalt ensina que tudo é grande quando é feito com amor. Eu
procuro que nada na minha vida seja frio, seja apenas uma obra, eu me coloco
cada manhã como uma formiguinha – a minha casa está cheia de formiguinhas,
pequenininhas, tão engraçadinhas – eu me coloco com a fragilidade de uma
formiguinha nas mãos de meu Pai Celestial. Em Gesthalt eu aprendi que a
renovação da nossa vida interior a transformação é muito necessária. Sou uma
pessoa de oração, faço muitas horas de meditação, procurando realmente estar ao
lado dos que sofrem. Inclusive as minhas orações são pelos ímpios também, pelos
estupradores, pelos assaltantes, porque Jesus disse que veio para salvar os
homens. Respeito os ateus, tenho muitos amigos ateus, comunistas, amigos mesmo,
amigos que eu amo. Meu avô era um homem espírita, sei conviver com as crenças,
mas Gesthalt foi o meu caminho, foi a minha meta de velhice. Eu sou uma
velhinha alegre e quando me falam em solidão para mim esta palavra não existe.
Jamais existirá solidão a quem quebra as cadeias de seu eu e se volta para os
outros. Por isso eu sei que sempre contribuí, em 62 anos nesta Cidade, que eu
hoje amo, amo de verdade. Sinto alegria, muita alegria, por isso quero
novamente reiterar aqui o meu agradecimento ao Ver. Lauro Hagemann, que me
indicou. Foi muita coragem dele, sem ter visto se eu ainda podia falar, se eu
ainda raciocinava um pouco. Teve muita confiança. Eu agradeço a todos os
Vereadores, agradeço toda a alegria que Deus colocou na minha vida: esses
filhos maravilhosos, essa família que se reúne para cantar, que se reúne sempre
e que foi o prêmio maior da minha vida. Eu espero terminar os meus dias
sorrindo, terminar os meus dias procurando trabalhar na minha auto-educação. Eu
não era uma pessoa organizada, eu perdi minha mãe aos nove meses e não era uma
pessoa muito organizada, e devo ser organizada, então eu trabalho na minha
auto-educação porque eu quero chegar aos pés do meu Criador e dizer como São
Paulo: “Combati o bom combate; acabei a carreira; guardei a fé”. Muito obrigada
pela alegria que os senhores me proporcionaram. Muito obrigada a todos, meus
cumprimentos. (Palmas.)
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Professor Francisco de
Macedo, estão presentes seus ex-alunos, todos arquitetos, Moacyr Monge Marques,
João Palma, Léo Ferreira, Celma Cafruni e Vírginia Míssil Jardim.
Passamos a palavra ao Profº Francisco Riopardense de Macedo.
O SR. FRANCISCO RIOPARDENSE DE MACEDO: Senhores e senhoras, não
fosse a convivência que tive com os representantes do povo porto-alegrense
durante tantos decênios e as boas relações que com tantos deles estabeleci, não
compreenderia a homenagem que neste dia recebo. Como engenheiro e urbanista do
Município, como jornalista e historiador da Cidade, muitas e muitas vezes tive
a oportunidade de falar a esta Casa e ouvir seus representantes, e em certos
momentos especiais, muito especiais, de com ela festejar efemérides, proferindo
palestras sobre datas e personalidades, de projeção local ou destaque nacional.
A vivência que tive então, foi menos pela condição de filho
de Porto Alegre que pelas atividades nela desempenhadas, e é esta circunstância
que tanto me ligou à sua vibração, pela vida comunitária, e à sua estrutura,
pela compreensão de seu processo formador.
Houve, sem dúvida, mútua e fecunda permuta entre o
pensamento do urbanista e o do historiador. A visão simultânea do homem e de
seus equipamentos fundamentais, desde o da saúde até o de educação e recreação,
me induziu à preocupação com a vizinhança, com a relação entre as pessoas para
a vida coletiva e humanizante. Vida coletiva rica em experiências que
qualificaram o porto-alegrense.
Menino Deus, por exemplo, não era uma rua nem uma igreja
apenas. Era um complexo de gentes e espaços marcando profundamente e
enriquecendo, sem dúvida, efemérides inolvidáveis na vivência do
porto-alegrense. Até o maestro Joaquim Mendanha, autor do Hino Rio-Grandense,
em 1838, ali atuou mais tarde, compondo músicas e musicando versos sacros e
profanos para aquelas festas.
Festas que se desenvolveram e se projetaram na Cidade. O
altar de Nossa Senhora dos Navegantes, naquela Igreja, era uma alegria para os
olhos e anualmente cruzava espaços urbanos e áreas vazias para alegrar também a
gente da Igreja do Bom Fim e logo em 1875, iria mais longe ainda, para o seu
espaço definitivo, à beira do Guaíba, na zona norte, comemorar todos os
dois-de-fevereiro.
Víamos, também, como marcante de um povoado, a vida coletiva
na recreação. Os tablados nos espaços livres para artistas reunindo o povo e,
mais tarde, a Casa da Comédia, que reunia gente de teatro e gente de artes
visuais ali no casarão do Beco da Ópera, atual Rua Uruguai. Um desses, que
também fazia cenários, foi o nosso Manoel de Araújo Porto Alegre que em
1826 transfere-se para o Rio e vai, bem mais tarde, realizar a grande reforma
do ensino artístico no Brasil, a primeira efetiva após a Missão Francesa de
1816.
E neste conseguinte aprendi a ver a povoação como
vida-de-relação e o povoado como espaço dela. E esta visão, mais de urbanista
que de historiador, de um estudioso que sente o espaço antes de sentir a
cronologia, foi se consolidando à medida que sentia ser ela, a povoação,
matéria para um capítulo de ciências sociais.
E a significação desta vida-de-relação no estudo dos povos
não me permitiu aceitar, por volta de 1970, a data de 5 de novembro de 1740
como a da fundação de Porto Alegre. Não seriam os espaços abertos ou fechados
que caracterizariam a Cidade. E a atividade isolada de um homem, por mais
ilustre ou poderoso que fosse, não chegaria àquela vida-de-relação. Não podia
aceitar que a simples concessão de terra para reunir e multiplicar o gado
alçado constituísse fundação de cidade. Muitos, àquela época, receberam essas
concessões, constituindo incipientes colônias de produção, para alimentar os
centros povoados que interessavam à metrópole, com gado, para sua subsistência,
ou transporte para suas mercadorias. Era preciso distinguir colônia de produção
de colônia de povoamento. Essa só se qualifica pela vizinhança efetiva, que
multiplica o equipamento criando realmente o povoado, a vila, a vida urbana
enfim.
E foram essas as razões principais que me levaram a propor,
e esta Casa a aceitar, o estabelecimento da data de 26 de março de 1772 como a
da fundação do povoado. Então, após mais de um ano de discussões pela imprensa,
onde não faltou nem mesmo a participação de cartunistas, Sua Excelência o
Vereador Aloísio Filho, no fim de 1971, oficializava a mudança necessária.
Dizia que são as relações de vizinhança que impulsionam o
avanço de todos os processos porque, realmente, é a vida coletiva que cria e
desenvolve a comunidade.
Sabem disto muito bem os edis que têm valorizado este
Legislativo. E quando não sabem sentem a necessidade de apoiar e destacar os
vértices do pensamento de sua comunidade, especialmente quando esses visam o
entendimento do processo de sua formação. Está nesse caso a compreensão e
interpretação de seus símbolos.
De alguns anos a esta parte a discussão do brasão da Cidade
tem freqüentemente ocupado a atenção dos vereadores. Mesmo não chegando a
Plenário a preocupação se projeta em consultas que ocupam a atenção de vários
estudiosos, demorando-se, principalmente, no cintel daquele símbolo.
Com efeito, a frase adotada é o título dado por D. Pedro II a Porto Alegre por entender que o povo desta Cidade, menos de um ano após a ocupação pelos farroupilhas a teriam reconquistado para o Império. O título de “Leal e Valorosa Cidade de Porto Alegre”, concedido em 1841, refere-se, pois, a uma possível ocorrência de 1836. Título semelhante foi conferido a São José do Norte. Ambas as repudiaram nos dias que se seguiram à proclamação da República, não só por uma questão de coerência mas, principalmente, pelo conteúdo republicano da própria revolução farroupilha. Realmente não tinha lógica aceitarem aquele título os que durante tanto tempo lutaram pela federação.
E por absurdo que pareça, em 1953 foi idealizado e desenhado
o atual brasão tendo no listel o título que a coerência do fim do século
passado havia abolido e, o que é pior, colocando os revoltosos de 35 como os
vilões, esquecendo a pioneira luta deles contra o centralismo e pela federação,
luta válida e até hoje defendida pelos mais recentes governos do Estado. Jovens
estudantes, turistas e povo em geral não poderão entender que o brasão de Porto
Alegre eleja um título contra os farroupilhas sendo capital de um Estado que
adotou como símbolo o que foi criado pelos republicanos rio-grandenses de 1835.
Entendo que tanto os símbolos e seus detalhes, como a
toponímia da Cidade, devem se subordinar a uma lógica que auxilia o povo a
compreender sua formação, o que vale dizer – e é muito importante –, a conhecer
a si mesmo, a construir a sua própria filosofia. A filosofia de um povo livre só
pode ser na sua autoconfiança, na sua própria força, o que só alcança quando
compreende a sua permanente presença na história. Presença na construção da
nacionalidade, antes dos heróis mais ou menos provisórios ou adredemente
forjados pela história oficial.
Muitos já sentem a necessidade de deixar de lado as cínicas
formulações de “tirar vantagem em tudo”, de “Deus é brasileiro”, enfim, do
famoso “jeitinho brasileiro”. A entronização do homem na história para
substituir deuses e heróis é passo importante para a valorização do esforço e
do trabalho em substituição à esperteza e cretinice vulgares.
Senhores vereadores, minhas senhoras e meus senhores, a
Cidade é um museu a céu aberto que conta a história de sua comunidade. É um
arquivo também, onde cada rua, cada praça, cada monumento são documentos para
reconstruir a sua história.
Ao receber o título de Cidadão Emérito nos colocamos ao lado
dos Vereadores desta Cidade e dos demais estudiosos que têm tratado de sua
formação, para colocar o porto-alegrense mais e mais como um agente ativo de
sua postura de homem, o único animal que tem condições de construir a si mesmo.
Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Para entregar o título
honorífico de Cidadã Emérita à Senhora Giovanna de Freitas Xavier, convido o
Ver. Lauro Hagemann.
(O Sr. Lauro Hagemann procede à entrega do título.)
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE: Para entregar o título
honorífico de Cidadão Emérito ao Profº Francisco Riopardense de Macedo, convido
a Srª Maria Leda de Macedo, sua esposa.
(A Srª Maria Leda de Macedo procede à entrega do título.)
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE: Informamos que recebemos
correspondências de saudações aos nossos homenageados do Sr. Carlos Bastos,
Secretário Extraordinário para Assuntos de Comunicação Social do Estado; do
Engenheiro Claudio Ryff Moreira, Secretário de Estado da Indústria e Comércio,
e do jornalista Firmino Cardoso.
Estão encerrados os trabalhos.
(Levanta-se
a Sessão às 18h29min.)