ATA DA QUINTA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 26.03.1991.

 


Aos vinte e seis dias do mês de março do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quinta Sessão Solene da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às dezessete horas e doze minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à entrega dos Títulos de Cidadão Emérito aos Senhores Francisco Riopardense de Macedo, concedido através do Projeto de Resolução nº 28/90 (Processo n° 1436/90), e Giovanna de Freitas Xavier, concedido através do Projeto de Resolução n° 48/90 (Processo n° 2189/90), e solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Airto Ferronato, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhora Mila Cauduro, Secretária Estadual da Cultura, representando o Governador do Estado; Senhor Maturino Luz, representando o Prefeito Municipal de Porto Alegre; Senhora Giovanna de Freitas Xavier, Homenageada; Senhora Rejane Carrion, filha da Homenageada; Senhor Francisco Riopardense de Macedo, Homenageado; Senhora Maria Leda de Macedo, esposa do Homenageado. Ainda, o Senhor Presidente registrou as presenças, no Plenário, de Cláudio Cunha, Luis Carlos Magalhães, Rosinha Laytano, Dante de Laytano, Paulo e Diná Gastal, Plínio Berinhard, Hilda Flores, José Carlos D’Ávila, Hermes Zanetti e Leônidas Xausa. Após, o Senhor Presidente pronunciou-se acerca da homenagem e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Lauro Hagemann, em nome das Bancadas do PCB, PTB, PMDB, PL, PSB e PDS, e como proponente da homenagem à Senhora Giovanna de Freitas Xavier, falou do trabalho da Homenageada, como Assistente Social, principalmente através do Lar São José, fundado por S. Sa. e que visa o apoio à mãe solteira no Município. Comentou, ainda, a atuação de Francisco Riopardense de Macedo na defesa da história porto-alegrense. O Ver. Artur Zanella, em nome das Bancadas do PFL e do PDS, falou sobre a atuação do Senhor Francisco Riopardense de Macedo no estudo e difusão da história e cultura de Porto Alegre, comentando as dificuldades enfrentadas por aqueles que dedicam sua vida à pesquisa e análise histórica. E o Ver. Antonio Hohlfeldt, em nome das Bancadas do PT, PTB, PMDB, PL e PSB e como proponente da Homenagem ao Senhor Francisco Riopardense de Macedo, declarou sua admiração pelo trabalho realizado pelos Homenageados da presente Sessão. Discorreu sobre a vida e a trajetória profissional do Senhor Francisco Riopardense de Macedo, marcada pela dedicação ao estudo da nossa cultura e do nosso passado. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra à Senhora Giovanna de Freitas Xavier e ao Senhor Francisco Riopardense de Macedo, que agradeceram a homenagem prestada pela Casa. Após, o Senhor Presidente solicitou ao Vereador Lauro Hagemann e à Senhora Maria Leda de Macedo que procedessem à entrega dos Diplomas de Cidadão Emérito, respectivamente, à Senhora Giovanna de Freitas Xavier e ao Senhor Francisco Riopardense de Macedo. Ainda, foram entregues flores à Senhora Giovanna de Freitas Xavier e foi registrada a presença, no Plenário, de ex-alunos do Senhor Francisco Riopardense de Macedo, bem como, o recebimento de correspondência dos Senhores Carlos Bastos, Cláudio R. Moreira e Firmino Cardoso, relativa à presente solenidade. A seguir, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e vinte e nove minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Airto Ferronato e secretariados pelo Vereador Clóvis Ilgenfritz. Do que eu, Clóvis Ilgenfritz, 3° Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1° Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene.

Informamos que estão presentes neste ato: o Sr. Ilton Rodrigues Severo, representando o Jornal RBS-Letras; o Sr. Hermes Zanetti, ex-Deputado Federal; Cláudio Roberto Cunha, representando o Deputado Westphalem Correa; Sr. Leônidas Xausa, ex-Vereador desta Casa, Secretário de Justiça e Suplente de Senador.

A Câmara Municipal de Porto Alegre tem adotado a prática de desenvolver as Sessões Solenes com diversos homenageados, no sentido de principalmente aproximar nossos ilustres homenageados e todos os convidados.

A CMPA homenageia hoje o professor, historiador, engenheiro e político Francisco Riopardense de Macedo, por uma justa proposição do ilustre Presidente desta Casa, Ver. Antonio Hohlfeldt, da Bancada do PT. Também numa iniciativa feliz do Ver. Lauro Hagemann, do PCB, hoje Presidente da Comissão de Finanças e Orçamento, esta Câmara presta uma homenagem à Profª Giovanna de Freitas Xavier.

O Profº Francisco Riopardense de Macedo, por seu trabalho e sua obra, merece toda a consideração da população da Capital gaúcha, já que ao longo dos anos tem dedicado muito do seu tempo a estudar e pesquisar Porto Alegre.

O Legislativo Municipal está, nesta Sessão, interpretando certamente o desejo dos porto-alegrenses em demonstrar o reconhecimento da Cidade a um dos seus filhos mais ilustres. Se a obra do Profº Francisco Riopardense de Macedo é reconhecida também no exterior, nada mais justo que os vereadores e o povo da sua Cidade rendessem sua homenagem.

A Profª Giovanna de Freitas Xavier é nascida em Recife, escolheu Porto Alegre para viver. O maior exemplo de sua dedicação, sempre aos marginalizados no processo social, foi a fundação do Lar de São José, que funciona há mais de 30 anos, ajudando jovens, mães solteiras, oferecendo vida familiar, dotando a jovem de uma profissão, além de ajuda para crescer na dignidade humana. A Srª Giovanna marcou sua atuação também a favor da criança abandonada, além de importantes pesquisas sobre a prostituição, trabalho reconhecido em diversos Estados.

Por isso, quando saudamos o Profº Francisco Riopardense de Macedo e a Srª Giovanna de Freitas Xavier, em nome desta Casa, nós queremos também estender a homenagem à legião de seus incontáveis amigos, admiradores e familiares.

A CMPA com essas homenagens, está reconhecendo, em nome de sua gente, de todo o povo de Porto Alegre, o valor de toda obra exemplar dos nossos ilustres homenageados.

De início, passamos a palavra ao Ver. Lauro Hagemann, proponente de uma das homenagens, que fala pela sua Bancada e pelas Bancadas do PTB, PMDB, PL, PSB, PFL e PDS.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Prezado Ver. Airto Ferronato, Presidente dos Trabalhos; ilustres, prezados e queridos homenageados: Giovanna de Freitas Xavier e Sr. Francisco Riopardense de Macedo; prezada Secretária Srª Mila Cauduro; prezado representante do Sr. Prefeito Municipal; prezados acompanhantes dos homenageados; Vereadores; convidados; senhoras e senhores. De vez em quando a CMPA se engalana, como nesta tarde, numa Sessão diferente para render homenagens a pessoas que às vezes nem sendo daqui, como é o caso da Srª Giovanna, merecem o nosso reconhecimento e no caso do Profº Riopardense de Macedo, um porto-alegrense, o reconhecimento da sua cidade natal pelo serviço que vem prestando à intelectualidade porto-alegrense, gaúcha e brasileira. Esta solenidade, hoje, se reveste de uma característica especial, 26 de março, 219 anos comemora a nossa Cidade. No início da tarde tivemos aqui uma Sessão Solene com a presença do Prefeito, Secretários, para homenagear o nosso antigo Porto dos Casais e hoje, aqui nesta hora, nos reunimos novamente para homenagear duas personalidades que muito contribuíram para o avanço, para o progresso da nossa Cidade. A Câmara de Vereadores tem proporcionado, de vez em quando, encontros desta natureza, não tão brilhantes talvez como o de hoje, dado ao largo círculo de amizades, de benquerenças que circundam os nossos dois homenageados. Eu me sinto, particularmente, agradecido por ser proponente do Título de Cidadã Emérita a Srª Giovanna. Ela sempre me situou que gostaria e gosta de ser chamada de assistente social numa valorização da sua atividade profissional. Acho que é muito justo porque cada um que tenha uma especialidade gosta que ressaltem essa especialidade.

Pois foi na condição de assistente social que D. Giovanna produziu os trabalhos que hoje são do reconhecimento desta Câmara e desta Cidade. Numa época em que falar em mãe solteira produzia calafrios, ele teve a ousadia de defender a mãe solteira, para usar uma expressão da época, as jovens envergonhadas. E fundou, depois de se formar como assistente social, ter praticado vários anos em diversas entidades de assistência social, D. Giovanna fundou o Lar de São José, que funciona até hoje. E o ex-Vereador desta Casa, prezado amigo Leônidas Xausa, me revelava hoje à tarde quando chegava aqui um dado interessante. A primeira subvenção oficial que o Lar de São José recebeu na sua história foi proveniente desta Casa, por indicação do Ver. Leônidas Xausa, isso lá pelos idos de 1956. Por aí podem os senhores aquilatar o tempo da existência do Lar de São José e a benemerência que ele produziu e vem produzindo. A D. Giovanna é recifense, é pernambucana, ancorou em Porto Alegre e aqui fez a sua razão de viver. E por isso nós, Vereadores de Porto Alegre, lhe concedemos o título de Cidadã de Porto Alegre. Não pretendo me alongar na exaltação da obra da D. Giovanna, assistente social, porque as suas obras falam por ela, são o melhor testemunho da sua passagem, da sua contribuição pela nossa Cidade e o motivo pelo qual esta Câmara sente-se muito honrada em conceder-lhe o título de Cidadã Honorária. Eu não poderia deixar de dizer algumas palavras ao Profº Riopardense, velho conhecido de muitos anos de batalhas comuns em defesa da história, da tradição, dos costumes e da intelectualidade de nossa terra, sobretudo um cidadão amante de Porto Alegre, da sua cidade natal. Ele, talvez seja aqui entre nós um dos raros porto-alegrenses, porque a maioria de nós proveio de outras plagas, adotamos esta Cidade como se fosse nossa. Aqui construímos a nossa vida, tivemos os nossos filhos, estamos tendo os nossos netos, estamos fazendo de Porto Alegre um prolongamento da nossa vida. Esta é uma característica porto-alegrense, deve ser de outras capitais também. Mas o Profº Riopardense mereceu desta Casa também, por iniciativa do Ver. Antonio Hohlfeldt, o título de Cidadão Emérito. É um galardão que lhe cabe assistência, e tenho certeza que ele saberá honrá-lo cada dia mais, assim como D. Giovanna, e apesar dos anos já passados, dos cabelos brancos alquebrados pelo tempo, mas com uma mente lindíssima. Sei que ambos, e principalmente ela, poderão ainda com sua inteligência, com sua experiência muito contribuir para a continuidade da nossa vida aqui em Porto Alegre. É o que esta Câmara deseja sinceramente cumprimentando os dois homenageados augurando que a galeria dos cidadãos honorários seja engrandecida com mais esses dois nomes exponenciais. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Artur Zanella, que fala em nome das Bancadas do PFL e do PDS.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente em exercício, Ver. Airto Ferronato; Srª Giovanna de Freitas Xavier, Srª Rejane Carrion, Sr. Francisco Riopardense de Macedo e sua esposa, Maria Leda; D. Mila Cauduro, Secretária de Cultura, que representa S. Exª o Governador do Estado; Sr. Maturino Luz, que representa o Sr. Prefeito Municipal; meus senhores, minhas senhoras. O nosso cerimonial é um pouco complexo, e eu havia pedido ao Ver. Lauro Hagemann que falasse em nome do meu Partido, o PFL, na homenagem à D. Giovanna, porque eu gostaria de falar na homenagem ao Riopardense de Macedo. Não conhecia a D. Giovanna pessoalmente, apenas de nome, e descubro, agora, que é a mãe da Rejane Carrion, esposa do Carrion Júnior, meu colega de aula, que tenho certeza, gostaria de estar aqui neste momento, como estão todos os senhores que eu não posso saudar, mas além daqueles nomes citados, eu vi aqui Hermes Zanetti, ex-dirigente sindical, deputado, hoje grande executivo do governo estadual, a Mírian Avruch, que lá no Museu deu a sua contribuição para o Estado, e o nosso grande Profº Dante de Laytano. Lá está ele. (Palmas.) Eu acho que com a citação do seu nome eu posso dizer por que é que hoje eu queria falar sobre o Profº Francisco Riopardense de Macedo, com quem devo ter trocado duas ou três palavras em toda a minha vida. Uma, é a homenagem que eu gostaria de fazer a todos os historiadores, a todos os escritores, a todos os intelectuais que eternizam a história da nossa Cidade, do nosso Estado e do nosso País. Então, nesta parte, em meu nome, em nome da Bancada, em nome da Bancada do PDS, dos Vereadores João Dib, Vicente Dutra, Mano José e Leão de Medeiros, eu queria, em rápidas palavras, dizer que eu sempre identifiquei no Profº Riopardense de Macedo, o combatente do bom combate. Ele talvez até nem se lembre muito bem, mas quando eu resolvi fazer um Projeto de Lei nesta Casa para discutir o brasão de Porto Alegre - e hoje vi um Deputado Federal e até falei com ele ao meio-dia, Adroaldo Streck -, ele se referia à “mui leal e valerosa” cidade de Porto Alegre. O “mui” nunca existiu, a “valerosa” creio, até hoje, tenha sido um erro de datilografia, porque todos os documentos falam em “valorosa”. O Profº Riopardense de Macedo foi um dos que discutiu isso, entre outros, e me perguntava e me pergunto o que faz com que pessoas dediquem sua vida à cultura, porque, na maior parte das vezes, só recebe problemas, desenganos, trabalho. Vejo aqui o representante do Sr. Prefeito Municipal, o Maturino Luz, que também segue esse caminho. Daqui a vinte ou trinta anos, Maturino, quando receberes o título aqui da Cidade, irá lembrar que dedicaste tua vida para muitas coisas que as pessoas não conhecem. Sei, por experiência própria quão difícil é! Resolvi, uma vez, fazer uma pesquisa sobre a cidade em que me criei, uma cidade do interior, Itaqui. Não passei da segunda página. Resolvi procurar as origens da minha família, não consegui chegar à metade da página. Tentei pesquisar de onde vieram meus ancestrais. Vila Ipê, Antônio Prado; não consegui até hoje ir lá, Maturino! Sei que fizeste um trabalho sobre aquela cidade, Antônio Prado, mas é difícil, ninguém ajuda, é preciso ter uma força interior muito grande para se dedicar numa cidade, num Estado, onde a maior parte das pessoas não dá importância às suas raízes, a trabalhar nessa área, com todo o sacrifício, sem condições, com a má vontade da maioria e, como disse antes, defendendo as causas justas no bom combate, como é o caso do Profº Riopardense de Macedo. Eu queria, Professor, nesta manifestação, dizer somente da minha admiração pelo senhor, pelo seu trabalho, admiração pela sua esposa, que não deve ser fácil dividir o marido com os livros, com os arquivos, com as pesquisas, e dizer que hoje o homenageado não é o Profº Riopardense de Macedo, como a homenageada não é somente a D. Giovanna, os homenageados somos nós, Vereadores de Porto Alegre, a Câmara Municipal e a Cidade, que recebe como seu cidadão pessoas que dedicaram toda a sua vida ao próximo. E eu sei como é difícil pessoas se dedicarem à comunidade enfrentando todas as incompreensões possíveis e imagináveis. Eu queria, neste dia, dizer, Professor, D. Giovanna, que nós nos sentimos honrados com esse seu título. Levem para as suas casas a certeza de que Porto Alegre muito deve a vocês e Porto Alegre sempre será grata aos dois que, hoje, recebem este prêmio. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos a presença do Profº Dante de Laytano, da Dra. Mírian Avruch, do Dr. Carlos de Mello D’Ávila, Diretor-Presidente da Empresa Porto-Alegrense de Turismo.

Passamos a palavra ao Ver. Antonio Hohlfeldt, que falará em nome do seu Partido, o PT, e do PTB, PMDB, PL e PSB.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Prezado Vereador Airto Ferronato, Presidente dos Trabalhos de hoje; Prezada Giovanna; meu querido Francisco - me permita assim chamar - não por força do cargo, mas pela admiração que devoto aos dois; e demais componentes da Mesa, especialmente a Profª Mila Cauduro que pela primeira vez vem a esta Casa na sua função de Secretária Estadual da Cultura, o que muito nos honra, e representando o Governador do Estado; prezado companheiro Maturino Luz, que sempre tenho a honra de dizer que foi um aluno na Faculdade, um amigo e hoje um colaborador dentro da atual Administração, respondendo plenamente ao projeto da recuperação do patrimônio histórico desta cidade de Porto Alegre e que aqui representa o Prefeito Municipal; os companheiros Vereadores, Artur Zanella, que já se manifestou, Ver. Clovis Ilgenfritz, nosso integrante da Mesa Diretora, além daqueles convidados citados, que eu me permito, especialmente, nominar o companheiro Leônidas Xausa, com quem sempre temos encontros marcados, através do Câmera 2, e o Hermes Zanetti, que é duplamente companheiro porque é professor como eu e é um homem que vem batalhando, e não é porque perdeu ou não ganhou o mandato neste momento que vai deixar de batalhar, porque continua participando da política partidária e defendendo as idéias básicas que o levaram até aquela função pública.

Eu queria, aqui, mencionar especialmente alguns amigos que se encontram presentes: o sempre bem-vindo a esta Casa, Luiz Carlos Magalhães, o nosso autor; a Rosinha de Laytano; o Profº Dante de Laytano, que foi logo notado pelo Ver. Artur Zanella; o jornalista Paulo Fontoura Gastal, que tem toda uma história dentro desta Cidade - não vou dizer que é tão velho quanto ela porque faltaria à verdade - mas de qualquer maneira, tem um valor imenso na história desta Cidade, por tudo que prestou de serviço a esta Cidade, no mínimo dentro da edição do Caderno de Sábado, junto com a Diná, sua companheira; o Plínio Bernhardt, que vi aqui logo que cheguei; a Profª Hilda Flores; o Profº Cibilis; o meu querido livreiro Boeck, da Livraria Sulina.

E dava para a gente continuar, talvez muito tempo, mencionando as pessoas que aqui se encontram. O que prova, antes de tudo, que nós andamos acertados em reunir nesta homenagem tantas e tão variadas pessoas através dos dois homenageados. Até porque eles integram um grupo de cidadãos que trazem – e eu vou usar uma palavra que eles certamente conhecem e a gurizada provavelmente não conhece mais – que trazem nas suas cãs, como se costumava dizer em certas épocas, a marca da dedicação a esta Cidade.

E quando eu olho este Plenário, hoje, cheio, vejo que a maioria das pessoas que aqui se encontram, igualmente, são companheiros dessas lutas.

Eu diria que, de uma certa maneira, nós poderíamos estender esta homenagem à assistente social Giovanna Xavier, ao arquiteto e professor, pesquisador Francisco Riopardense de Macedo, a cada uma das pessoas que aqui se encontram, que cada um de nós tem procurado dar, à sua maneira, um pouco dessa contribuição. Mas a Casa, através das Proposições que se apresentam, houve por bem, entre tantas outras, destacar estas duas homenagens no dia de hoje.

Começo me referindo àquele a quem me coube o galardão de lembrar para esta homenagem, Francisco Riopardense de Macedo, cuja vida e cuja obra está absolutamente identificada com as forças progressistas e com a história desta Cidade. A sua trajetória profissional, por isso mesmo, dirigiu-se para o estudo do Planejamento Urbano e da Arquitetura como marca da história e possibilidade da democratização das populações e seu acesso aos bens comunitários, na mesma forma que escolheu Porto Alegre como foco dos seus estudos centrais, culminando pelo estudo permanente da vida de Hipólito José da Costa, sabidamente o primeiro grande jornalista brasileiro na defesa da nossa liberdade.

Natural de Porto Alegre, nasceu no dia 2 de março de 1921, e me permito a citação porque o Riopardense de Macedo neste mês completou 70 anos de vida, e esse foi um dos vários motivos de nós escolhermos o mês de março para a entrega do diploma. Ele tem, com toda certeza, esses setenta anos muito bem vividos, basta olhar para o olhar dele, para o aspecto disposto do Riopardense. Filho de José Maria Sayão Lobato de Macedo – e quando se fala nesse nome já me lembro de um velho nome ligado ao rádio, ao teatro, Sayão Lobato - não sei se emprestou o nome, se é parente, mas de qualquer maneira é uma lembrança para aqueles que conhecem a história da Cidade. Filho também de Maria Rita, diplomou-se em Engenharia e Urbanismo, integrou a Secretaria de Obras no Governo do Estado, depois a Prefeitura Municipal de Erechim, foi Professor da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, Presidente da Comissão Permanente de Estudo e Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural do Estado, chefe do Cadastro da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Diretor do Serviço de Pesquisa da mesma Prefeitura, membro do CIPEL, integrante e fundador da Associação de Artes Plásticas Chico Lisboa, membro da Associação Rio-Grandense de Imprensa, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, acho que vou parar por aí, porque nós vamos levar umas duas folhas do discurso para fazer o currículo do Riopardense.

A mim interessa lembrar é que além do pesquisador o Riopardense é um xilogravurista de mão cheia, e acho que a maioria de nós aqui conhece as gravuras do Riopardense e a sua preocupação nos registros das imagens de Porto Alegre, através dessa sua habilidade, dessa sua sensibilidade. Eu desconfio que ele andou cometendo poesias também, mas não consegui chegar a essa descoberta, quem sabe lá, daqui a pouco. E, sobretudo, me parece que a grande contribuição do Riopardense é de que mesmo pesquisando e pensando o passado desta terra, deste povo, jamais se distancia do seu presente. E esta simbiose passado-presente me parece extremamente importante. O meu convívio com o Riopardense de Macedo vem ainda dos bons tempos do “Correio do Povo”, quando ele levava, quase que semanalmente os seus artigos ao “Caderno de Sábado” ou quando, por idéia não sei mais de quem, se juntou ele e mais um grupo ao velho Biaggio, garantindo lá em Rio Pardo para se fazer todo um movimento de revitalização daquela cidade, ligando as tradições da Semana Santa, que por acaso estamos exatamente no seu decurso neste momento. Aliás, dessa fase nasceu um livro editado pela Sulina, o livro exatamente “Rio Pardo, Arquitetura fala da História”, e que teve, se não me engano, duas edições, no mínimo, e que foi, sem dúvida nenhuma, um livro básico para muitos de nós que nos preocupamos com esse tipo de tema.

Mas o Riopardense de Macedo não se manteve jamais distante da liberdade das idéias da expressão. Eu me lembro que foi no apartamento do Riopardense que, após a volta do exílio, fui um dos que teve a sorte de poder desfrutar de uma pequena mesa redonda com o Capitão Luis Carlos Prestes. Quando ouvimos de viva voz do Prestes a epopéia da Coluna, passamos uma tarde inteira conversando a respeito da política brasileira que, então, vivia uma nova etapa na sua busca de democratização. Eu acho que isso tem muito a ver, sim, com esta pesquisa permanente de Riopardense que dedicou a vida ao Jornalista Hipólito José da Costa.

É provável, contudo, que o papel mais destacado do nosso homenageado tenha corrido por conta de sua ligação com a cidade natal, fazendo inclusive que partisse dos seus alunos e colaboradores, especialmente através da Profª Marion Meirelles, que está aqui no Plenário, a idéia de que nós encaminhássemos esta homenagem que hoje se concretiza.

A Porto Alegre, Riopardense dedicou muito do seu trabalho com obras como “Porto Alegre, Origem e Crescimento”, de 1968, uma obra extremamente importante; como “As crianças descobrem a História do Rio Grande do Sul”, de 1972, ou ainda “Ingleses no Rio Grande do Sul”, de 1975, e enfim o “Solar do Almirante”, de 1980. São alguns dos títulos que se somaria “Os aspectos culturais da Cidade”, de 1982; “Porto Alegre vista por Saint-Hilaire”, de 1979, e a tantas outras obras por ele escritas. Tem uma, no entanto, que diz muito respeito a esta Casa. Em 1973 o Professor Riopardense de Macedo produziu um estudo sobre o bicentenário da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, publicado por esta Casa e abrangendo os diferentes aspectos da história e das funções do Legislativo Municipal. Foi por isso, Francisco Riopardense de Macedo, que nós escolhemos não só o mês de março, nos teus 70 anos, mas escolhemos o dia 26 de março, o dia do aniversário da Cidade, para ser também o dia da homenagem nesta Casa. E para que esta homenagem ficasse mais completa, escolhemos também, de comum acordo com o Ver. Lauro Hagemann, que também se fizesse uma homenagem à assistente social Giovanna Xavier. Porque um lado completa o outro, uma tarefa amplia a outra. De um lado a história dos desafios, de outro lado os desafios vividos e as buscas das soluções desses desafios. Eu olho para a Giovanna e lembro de uma avó que eu tenho com 95 anos, da qual tenho muito orgulho, que também tem a sua deficiência visual nessa sua idade, mas que certamente enxerga muito mais do que muitos dos que hoje vêm com falação e tentam fingir que resolvem os problemas deste País. É por isso que as homenagens ao Riopardense e à Giovanna honram esta Casa e nos emocionam sinceramente.

 

 

Esta é a nossa homenagem, Giovanna e Riopardense, e que vocês levem o abraço dos Vereadores em nome da cidade de Porto Alegre. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra a nossa homenageada, Srª Giovanna Xavier.

 

A SRA. GIOVANNA XAVIER: Após ouvir dos Srs. Vereadores seus discursos carregados de cultura, me sinto pequenina e esmagada para saudar os Exmos Srs. Vereadores, cujos nomes na minha provecta idade não poderia guardar com muita facilidade, principalmente porque houve mudanças, mas vai uma saudação que é muito grande, porque é uma mistura do afeto esparramado do pernambucano, do nordestino, com os meus 62 anos de vida nesta Cidade.

Quero saudá-los. E fico muito emocionada ao ouvir nomes como o da nossa Secretária da Cultura, e dos amigos todos, também. Fiquei até meio inibida de falar. Mas aceitem este meu muito obrigado, os meus respeitos, a minha admiração pelos trabalhos prestados.

A todos os que compõem a Mesa, ao meu companheiro de premiação, de título muito honroso, o meu abraço numa tarde muito honrosa, muito ensolarada da fundação da cidade de Porto Alegre, para a qual e para cujo crescimento contribui, orgulhosamente, digo sem nenhuma vaidade, contribui com o nascimento de oito filhos, sendo cinco homens. Uma geração, sem falsa modéstia, porque já cheguei na idade em que a falsa modéstia não tem cabimento, de pessoas que se projetaram na sociedade. São médicos, todos eles de vida muito útil. Uma geração bonita. Fato este que devo também à contribuição do meu marido, à inteligência e também à beleza da geração.

 A segunda geração – são oito filhos e trinta netos – A segunda geração dobrou filhos. Realmente, todos eles entram muito cedo nas Universidades, os seus trabalhos são sempre conceituados. As noras, todas, são cultas, são reconhecidamente professoras de grandes merecimentos e muito têm trabalhado, tem enfermeira de alto padrão, professora, diretora, com teses em doutorado. Realmente, eu contribuí, também, como assistente social do Lar de São José, para o nascimento de muitos cidadãos que teriam nascido no interior, ou até, que não teriam nascido. São centenas de moças que chegaram desesperadas no Lar São José, repelidas pela sociedade, rejeitadas pela família e que, hoje, têm os seus lares, muitas delas. Eu já estou com uma geração de bisnetos do Lar São José, e esta contribuição eu agradeço a Deus, à minha fé, que foi inquebrantável em todos os momentos difíceis, mas muito gratificantes. Estão aí, no Plenário, amigos que me comovem e até me inibem. Eu não sou purista da língua, porque há sete anos eu ceguei, não leio mais, eu que era uma leitora apaixonada, que lia quatro horas por dia, que não ouvia novelas para ler os meus livros. Comoveu-me, também, saber que há criancinhas da creche presentes. Não foi um ideal, como teve em todas as homenagens que eu recebo, inclusive fui premiada no Uruguai, em Montevidéu, recebendo uma homenagem por serviços prestados à comunidade, sempre como a idealizadora e fundadora do Lar São José. Mas este Lar não teria nem engatinhado - hoje ele tem mais de 30 anos - se não fora a ajuda das pessoas que assinaram a Ata de Fundação e que foram as primeiras escolhidas para dirigir a obra. E, sobretudo, esta obra existe, ela tem mãe e tem pai, só que esse não aparece muito não, é o Desembargador José Danton de Oliveira, que desbravou o caminho, pois era uma picada, não era uma estrada, era uma picada dentro de uma mata selvagem. Até minhas filhas foram censuradas quando adolescentes porque falavam em mãe solteira. Era tal o abandono da moça que tinha uma criança nos braços como se ela fosse a maior criminosa. As criminosas tinham também direito à visitas, ao afeto da família, amigos, no entanto, a maioria das meninas tinham de 15 a 22 anos, algumas até com 12 anos, mas era um abandono total. A família só pensava em “lavar a minha honra”, não pensava nem um segundo no abandono e na carência de afeto e apoio tão necessários nesse momento tão difícil da vida que é a gestação. Mas foi essa turma que até o fim, desde a primeira à última presidente, durante o tempo em que eu trabalhei no Lar, prestou serviços de despojamento, devotação e dedicação completa à causa da mãe solteira. Precisariam muitas folhas de papel para que pudéssemos nomear a força e o carinho que recebi dessa diretoria. Foram pessoas que davam o melhor de si e do seu tempo, que cuidavam da saúde das moças, que se revezavam nos trabalhos mais humildes, e a última que saiu, que também recebeu o título de Cidadã Emérita de Porto Alegre, que foi a Giselda Castro, nos proporcionou a vinda de máquinas, pois temos uma lavanderia-escola, da Alemanha. Veio um cidadão daquele país para reconhecer e ver se realmente a obra era verdadeira ou se era só fachada. Essas máquinas produziram uma lavanderia moderna que já está dando lucro, permitindo até que se possa pagar a folha de funcionários. Começamos esta obra sem dinheiro nenhum, apenas com a boa vontade dos dirigentes e dos amigos. Os amigos foram muitos, como o Xausa falou, nós tivemos apoio de convênios, mas era somente coragem, nada era certo, tudo era provisório, tudo era passageiro; recebia-se uma verba da Prefeitura, o Governo do Estado ajudava um pouco, mas, de repente, era a São José mesmo. O Lar se chama Lar de São José porque São José é o seu provedor e, até o dia de hoje, nós nos vemos em grande dificuldade. A casa foi cedida, a pedido do Desembargador Danton, pelo então Prefeito Ildo Meneghetti. Fui pedir aprovação do Arcebispo, porque, apesar de saber conviver, respeitar todas as crenças, eu sou Católica Apostólica Romana. Tive aprovação do Arcebispo com a benção para mim e para todas as pessoas que nos ajudassem, e até hoje nós temos a proteção do Cardeal. Portanto, essa não foi uma idealização caída do céu pronta; foram amigos que me ajudaram, que me acompanharam através dessa cruzada onde houve espinhos, mas, como diz a canção, o espinho não machuca a flor. Saímos gratificadas, crescemos, trabalhamos, demos o melhor de nós, e, pela vida afora, eu posso dizer, eu nasci em dezembro de 1906, realmente envelheci, mas recebi de Deus um dom muito grande: essa ajuda. Começou com meu marido, ele permitir que eu estudasse com oito filhos pequenos, me incentivou, estimulou; além da contribuição genética, que foi maravilhosa, essa contribuição de força, de incentivo que sempre deu. Eu lutei muito para não fazer o trabalho de conclusão de curso; apenas entrei na Escola de Serviço Social, naquele tempo nem era Faculdade, para aprender a lidar melhor com os pobres, para saber realmente conhecer as técnicas de abordagem, tudo que era necessário para que melhor eu servisse. Eu não vou ter emprego, eu não pretendo ter nenhum, eu já estou com bastante idade, e meu marido quase me forçou, exigiu inclusive; quando eu quis oferecer o trabalho de conclusão do curso, ele, que era um grande positivista, mas um homem que respeitava a religião e que gostava que eu fosse religiosa, disse: “Ofereça ao Cardeal, ofereça à sua Santa Madre Igreja, que é uma unidade, e merece”. Ele era uma pessoa extraordinária, e aqui quero render uma homenagem de gratidão pelo muito que ele fez, fez a minha cabeça, além do meu avô, que, quando eu era criança, me levava a leprosários e penitenciárias. Aqui trabalhei na penitenciária, estagiei na Santa Casa, de setembro de 52 a 53, somente com mães solteiras, com tuberculosos, indigentes, enfim, desde menina de nove anos que visitava obras sociais e vivia com o povo, com os pobres. Conheci a miséria das vilas, pessoas extraordinariamente maravilhosas, pessoas nobres e se contasse a história delas muita gente choraria neste Plenário, porque, realmente, encontrei tanta grandeza moral trabalhando com as prostitutas em quatro Estados, indicada pelo 3° Exército, visitando bordéis durante a noite, levando um ofício para cada Secretário de Segurança. Estive em Pernambuco, na Bahia, Ceará e Maranhão, e até hoje tenho histórias comovedoras de grandeza e bondade, corações incrivelmente doces, de meninas que foram levadas à prostituição pela ignorância, pelo abandono das nossas leis, porque elas nunca tiveram a oportunidade de estudar, iam para a roça e de lá para a casa de famílias, nem sempre bem tratadas. De forma que, até hoje vejo, na Bahia havia, como em todos os Estados, uma inspeção sanitária compulsória, onde elas eram empurradas para dentro de um camburão. Conversando com essas moças, meninas algumas, eu dizia que “eu não lhes trago nada para dar, somente um coração de mãe, um coração muito grande, um coração que Deus me deu, o dom de sentir o sofrimento alheio; não é simpatia, é empatia que sinto pelo sofrimento, mas nada posso fazer, senão dizer que amo vocês. Eu tenho filhas da idade de vocês”. Depois, chorando, elas beijavam minha mão, agarravam meu vestido, dizendo: “Fique, fique mais um pouco conosco, dona, converse”. Vi um médico chorar. Um homem idoso disse: “Esse fichário aqui é uma tragédia”. Há mães que “trabalham” – elas chamam a prostituição de trabalho – dobrado, quando outra está enferma, infectada por doenças contagiosas, ou quando são esfaqueadas ou quando apanham. É terrível, é um mundo dantesco. Mas, um mundo que me amadureceu, um mundo ao qual eu agradeço a Deus tudo que vi, conversas nos bordéis, nas casas, nos pelourinhos – nesses num deles um dia subi, no outro dia, o soldado me disse que ele ruiu. Fui sempre muito amparada, bem aceita. Esse é o meu currículo.

Depois de 50 anos achava que estava fraca. Numa reunião interdisciplinar algumas assistentes sociais revelavam alguma fraqueza. Isso me entristeceu muito. Muito, muito. Era problema de nível cultural meu em relação aos outros. Então, fiz vestibular para filosofia e cursei. Eu já tinha um namoro com a filosofia há tempo. Conheci os filósofos com meu marido, meu professor e companheiro maravilhoso. Ele foi meu grande amigo, a minha força na vida, a minha estrela. O curso serviu unicamente para me auxiliar no serviço social, para servir melhor. O escudo de minha profissão foi colocado no meu serviço, e esse nas mãos de Deus. Por ele tenho sido criada, e duvido que alguém nesta terra tenha encontrado maior número de almas nobres, de criaturas de escol, que eu as chamo de minhas almas perfumadas. Eu encontrei, vim encontrar depois, um grupo com a filosofia da Gesthalt, uma filosofia que nos ensina a valorizar as obras pequenininhas, porque nada é pequenininho; pentear o cabelo de uma criança, plantar uma árvore, varrer uma casa, dar uma aula magistral, nada é pequeno quando é estimulado, impulsionado pelo amor. Este amor me fez crescer na fé, esse caminho de Gesthalt ensina que tudo é grande quando é feito com amor. Eu procuro que nada na minha vida seja frio, seja apenas uma obra, eu me coloco cada manhã como uma formiguinha – a minha casa está cheia de formiguinhas, pequenininhas, tão engraçadinhas – eu me coloco com a fragilidade de uma formiguinha nas mãos de meu Pai Celestial. Em Gesthalt eu aprendi que a renovação da nossa vida interior a transformação é muito necessária. Sou uma pessoa de oração, faço muitas horas de meditação, procurando realmente estar ao lado dos que sofrem. Inclusive as minhas orações são pelos ímpios também, pelos estupradores, pelos assaltantes, porque Jesus disse que veio para salvar os homens. Respeito os ateus, tenho muitos amigos ateus, comunistas, amigos mesmo, amigos que eu amo. Meu avô era um homem espírita, sei conviver com as crenças, mas Gesthalt foi o meu caminho, foi a minha meta de velhice. Eu sou uma velhinha alegre e quando me falam em solidão para mim esta palavra não existe. Jamais existirá solidão a quem quebra as cadeias de seu eu e se volta para os outros. Por isso eu sei que sempre contribuí, em 62 anos nesta Cidade, que eu hoje amo, amo de verdade. Sinto alegria, muita alegria, por isso quero novamente reiterar aqui o meu agradecimento ao Ver. Lauro Hagemann, que me indicou. Foi muita coragem dele, sem ter visto se eu ainda podia falar, se eu ainda raciocinava um pouco. Teve muita confiança. Eu agradeço a todos os Vereadores, agradeço toda a alegria que Deus colocou na minha vida: esses filhos maravilhosos, essa família que se reúne para cantar, que se reúne sempre e que foi o prêmio maior da minha vida. Eu espero terminar os meus dias sorrindo, terminar os meus dias procurando trabalhar na minha auto-educação. Eu não era uma pessoa organizada, eu perdi minha mãe aos nove meses e não era uma pessoa muito organizada, e devo ser organizada, então eu trabalho na minha auto-educação porque eu quero chegar aos pés do meu Criador e dizer como São Paulo: “Combati o bom combate; acabei a carreira; guardei a fé”. Muito obrigada pela alegria que os senhores me proporcionaram. Muito obrigada a todos, meus cumprimentos. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Professor Francisco de Macedo, estão presentes seus ex-alunos, todos arquitetos, Moacyr Monge Marques, João Palma, Léo Ferreira, Celma Cafruni e Vírginia Míssil Jardim.

Passamos a palavra ao Profº Francisco Riopardense de Macedo.

 

O SR. FRANCISCO RIOPARDENSE DE MACEDO: Senhores e senhoras, não fosse a convivência que tive com os representantes do povo porto-alegrense durante tantos decênios e as boas relações que com tantos deles estabeleci, não compreenderia a homenagem que neste dia recebo. Como engenheiro e urbanista do Município, como jornalista e historiador da Cidade, muitas e muitas vezes tive a oportunidade de falar a esta Casa e ouvir seus representantes, e em certos momentos especiais, muito especiais, de com ela festejar efemérides, proferindo palestras sobre datas e personalidades, de projeção local ou destaque nacional.

A vivência que tive então, foi menos pela condição de filho de Porto Alegre que pelas atividades nela desempenhadas, e é esta circunstância que tanto me ligou à sua vibração, pela vida comunitária, e à sua estrutura, pela compreensão de seu processo formador.

Houve, sem dúvida, mútua e fecunda permuta entre o pensamento do urbanista e o do historiador. A visão simultânea do homem e de seus equipamentos fundamentais, desde o da saúde até o de educação e recreação, me induziu à preocupação com a vizinhança, com a relação entre as pessoas para a vida coletiva e humanizante. Vida coletiva rica em experiências que qualificaram o porto-alegrense.

Menino Deus, por exemplo, não era uma rua nem uma igreja apenas. Era um complexo de gentes e espaços marcando profundamente e enriquecendo, sem dúvida, efemérides inolvidáveis na vivência do porto-alegrense. Até o maestro Joaquim Mendanha, autor do Hino Rio-Grandense, em 1838, ali atuou mais tarde, compondo músicas e musicando versos sacros e profanos para aquelas festas.

Festas que se desenvolveram e se projetaram na Cidade. O altar de Nossa Senhora dos Navegantes, naquela Igreja, era uma alegria para os olhos e anualmente cruzava espaços urbanos e áreas vazias para alegrar também a gente da Igreja do Bom Fim e logo em 1875, iria mais longe ainda, para o seu espaço definitivo, à beira do Guaíba, na zona norte, comemorar todos os dois-de-fevereiro.

Víamos, também, como marcante de um povoado, a vida coletiva na recreação. Os tablados nos espaços livres para artistas reunindo o povo e, mais tarde, a Casa da Comédia, que reunia gente de teatro e gente de artes visuais ali no casarão do Beco da Ópera, atual Rua Uruguai. Um desses, que também fazia cenários, foi o nosso Manoel de Araújo Porto Alegre que em 1826 transfere-se para o Rio e vai, bem mais tarde, realizar a grande reforma do ensino artístico no Brasil, a primeira efetiva após a Missão Francesa de 1816.

E neste conseguinte aprendi a ver a povoação como vida-de-relação e o povoado como espaço dela. E esta visão, mais de urbanista que de historiador, de um estudioso que sente o espaço antes de sentir a cronologia, foi se consolidando à medida que sentia ser ela, a povoação, matéria para um capítulo de ciências sociais.

E a significação desta vida-de-relação no estudo dos povos não me permitiu aceitar, por volta de 1970, a data de 5 de novembro de 1740 como a da fundação de Porto Alegre. Não seriam os espaços abertos ou fechados que caracterizariam a Cidade. E a atividade isolada de um homem, por mais ilustre ou poderoso que fosse, não chegaria àquela vida-de-relação. Não podia aceitar que a simples concessão de terra para reunir e multiplicar o gado alçado constituísse fundação de cidade. Muitos, àquela época, receberam essas concessões, constituindo incipientes colônias de produção, para alimentar os centros povoados que interessavam à metrópole, com gado, para sua subsistência, ou transporte para suas mercadorias. Era preciso distinguir colônia de produção de colônia de povoamento. Essa só se qualifica pela vizinhança efetiva, que multiplica o equipamento criando realmente o povoado, a vila, a vida urbana enfim.

E foram essas as razões principais que me levaram a propor, e esta Casa a aceitar, o estabelecimento da data de 26 de março de 1772 como a da fundação do povoado. Então, após mais de um ano de discussões pela imprensa, onde não faltou nem mesmo a participação de cartunistas, Sua Excelência o Vereador Aloísio Filho, no fim de 1971, oficializava a mudança necessária.

Dizia que são as relações de vizinhança que impulsionam o avanço de todos os processos porque, realmente, é a vida coletiva que cria e desenvolve a comunidade.

Sabem disto muito bem os edis que têm valorizado este Legislativo. E quando não sabem sentem a necessidade de apoiar e destacar os vértices do pensamento de sua comunidade, especialmente quando esses visam o entendimento do processo de sua formação. Está nesse caso a compreensão e interpretação de seus símbolos.

De alguns anos a esta parte a discussão do brasão da Cidade tem freqüentemente ocupado a atenção dos vereadores. Mesmo não chegando a Plenário a preocupação se projeta em consultas que ocupam a atenção de vários estudiosos, demorando-se, principalmente, no cintel daquele símbolo.

Com efeito, a frase adotada é o título dado por D. Pedro II a Porto Alegre por entender que o povo desta Cidade, menos de um ano após a ocupação pelos farroupilhas a teriam reconquistado para o Império. O título de “Leal e Valorosa Cidade de Porto Alegre”, concedido em 1841, refere-se, pois, a uma possível ocorrência de 1836. Título semelhante foi conferido a São José do Norte. Ambas as repudiaram nos dias que se seguiram à proclamação da República, não só por uma questão de coerência mas, principalmente, pelo conteúdo republicano da própria revolução farroupilha. Realmente não tinha lógica aceitarem aquele título os que durante tanto tempo lutaram pela federação.

E por absurdo que pareça, em 1953 foi idealizado e desenhado o atual brasão tendo no listel o título que a coerência do fim do século passado havia abolido e, o que é pior, colocando os revoltosos de 35 como os vilões, esquecendo a pioneira luta deles contra o centralismo e pela federação, luta válida e até hoje defendida pelos mais recentes governos do Estado. Jovens estudantes, turistas e povo em geral não poderão entender que o brasão de Porto Alegre eleja um título contra os farroupilhas sendo capital de um Estado que adotou como símbolo o que foi criado pelos republicanos rio-grandenses de 1835.

Entendo que tanto os símbolos e seus detalhes, como a toponímia da Cidade, devem se subordinar a uma lógica que auxilia o povo a compreender sua formação, o que vale dizer – e é muito importante –, a conhecer a si mesmo, a construir a sua própria filosofia. A filosofia de um povo livre só pode ser na sua autoconfiança, na sua própria força, o que só alcança quando compreende a sua permanente presença na história. Presença na construção da nacionalidade, antes dos heróis mais ou menos provisórios ou adredemente forjados pela história oficial.

Muitos já sentem a necessidade de deixar de lado as cínicas formulações de “tirar vantagem em tudo”, de “Deus é brasileiro”, enfim, do famoso “jeitinho brasileiro”. A entronização do homem na história para substituir deuses e heróis é passo importante para a valorização do esforço e do trabalho em substituição à esperteza e cretinice vulgares.

Senhores vereadores, minhas senhoras e meus senhores, a Cidade é um museu a céu aberto que conta a história de sua comunidade. É um arquivo também, onde cada rua, cada praça, cada monumento são documentos para reconstruir a sua história.

Ao receber o título de Cidadão Emérito nos colocamos ao lado dos Vereadores desta Cidade e dos demais estudiosos que têm tratado de sua formação, para colocar o porto-alegrense mais e mais como um agente ativo de sua postura de homem, o único animal que tem condições de construir a si mesmo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Para entregar o título honorífico de Cidadã Emérita à Senhora Giovanna de Freitas Xavier, convido o Ver. Lauro Hagemann.

 

(O Sr. Lauro Hagemann procede à entrega do título.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Para entregar o título honorífico de Cidadão Emérito ao Profº Francisco Riopardense de Macedo, convido a Srª Maria Leda de Macedo, sua esposa.

 

(A Srª Maria Leda de Macedo procede à entrega do título.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Informamos que recebemos correspondências de saudações aos nossos homenageados do Sr. Carlos Bastos, Secretário Extraordinário para Assuntos de Comunicação Social do Estado; do Engenheiro Claudio Ryff Moreira, Secretário de Estado da Indústria e Comércio, e do jornalista Firmino Cardoso.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h29min.)

 

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